
Minha paisagem mudou muito nestas últimas semanas. A última vez que estive aqui no apartamento a força das águas insistiam em bater com força arrastou sem licença o que via pela frente
Há três semanas saí com água na cintura carregando os meus gatos e uma incerteza no coração. A cada vez que chove aqui meu coração se enche de uma desesperança. A insegurança e as marcas do trauma são permanentes .
A vista da paisagem mudou. Há lama, esgoto a céu aberto, bueiros entupidos, árvores caídas, fios soltos, toneladas de entulhos. Isso vai passar com o tempo.
A materialidade vai se fazer presente, mas os danos na alma estes sim criam marcas, cicatrizes e raízes. Quem volta para casa já não tem a certeza de estar seguro.
Todos nós fomos afetados em escalas diferentes. Mas já não há recursos, ferramentas efetivas ou boas notícias. Tenho um crime anunciado, uma tragédia que poderia ter sido minimizada.
Onde o capitalismo impera somente no coração dos homens que estão no poder se tornam de pedras. Meio ambiente nunca é uma pauta relevante. Os negacionistas climáticos estão em todos os lugares. Há uma legião egoístas que saem impunes com os bolsos cheios de dinheiro e nenhum peso na consciência.
Vou seguir lutando por uma paisagem melhor. Não só da minha janela, mas do mundo inteiro. O que aconteceu no Sul é o aperitivo do que vai acontecer ao redor do mundo.
Falta consciência social, mas também falta humanidade. Sorte a nossa de termos em meio ao caos tantas pessoas exercendo de forma sublime na humanidade.
Enquanto eles negligenciam a nossa desgraça, nós vamos vencer através dos afetos reais que irão construir um recomeço colorido.