O Blog Carpinteiros do Universo surgiu em meados de 2010. Estava no quinto semestre da faculdade, colecionava corações partidos e asas quebradas.

Um Blog para poder elaborar perdas. Naquele ano havia perdido o meu melhor amigo, meu avô Antônio. Herói da minha infância, através dos seus legados me tornei uma leitora voraz e uma aspirante a poeta. Com o seu coração simples a tiracolo, a sabedoria vinda da vida e uma cultura que era inspiração, ele sempre escutava com gentileza e atenção as minhas histórias. Por mais cumpridas que elas fossem, não me interrompia. Devoramos livros juntos, criamos universos fantásticos.

O Carpinteiros do Universo surgiu para honrar a memória do meu avô Antônio . Uma forma de eternizar ele em versos criando uma espécie de memorial vivo. Ele sempre me ensinou que ser simples de coração é o mais importante. A riqueza do espírito é maior do que a de matéria. Enxergava os ditos invisíveis, respeitava a natureza e amava e os animais. Valores que transfiro no meu dia a dia, coloco em prática e poesia.

Infelizmente meu avô partiu andando de bicicleta até a lua. Não pode contemplar o crescimento do Carpinteiros do Universo, mas sei que ele está comigo o tempo todo.

No começo era um Blog de desabafos eu no auge dos meus vinte anos me equilibrava entre fossas, dilemas de ainda uma quase adolescência e a árdua tarefa de me inserir no mundo. Sem me sentir se fazendo pertencente a lugar algum, era marciana de mim mesma. Escrevia para desabafar a minha alma. Com o tempo, os escritos foram ganhando a forma de crônicas. Estilo de escrita que me encanta pela fluidez, ritmo e escrita. Posso falar de tudo, detalhar o cotidiano,falar a minha opinião em uma linguagem acessível criando revoluções. Hoje entendo que ser escritora também é um ato político. Na medida que coloco no papel o que deixa minha perplexa, posso discorrer sem censura sobre as desumanidades que desfilam de forma démodé pelas ruas, tento mudar o mundo a partir das minhas idéias.

De 2010 a 2014 as crônicas foram surgindo. Muitas eram cartas de amor, outras poesias, outras análises do dia a dia. Tinha muito de mim, isso fazia com que os leitores fossem se identificando a ponto de acharem que eu escrevia para eles. Mas eu era escritora e carpinteira de mim mesma, escrever sempre foi algo íntimo e inédito que me acompanha desde que ingressei no mundo das letras. Queria ser escritora desde os sete anos, criava mundos fantásticos, sabia que tinha vindo poeta, não era dom, era destino. Mas haviam pessoas que se identificavam, queria ler mais e fui provocada a escrever o meu primeiro livro.

Os livros

Foram quase cinco anos escrevendo sem pretensão alguma, até que os leitores foram surgindo. Uma pequena Legião de Carpinteiros do Universo foi surgindo, me senti provocada a presentear quem apreciava meus escritos em forma de livro.

De uma crônica chamada Conversas que Emagrecem publicadas no blog Carpinteiros do Universo, nasceu o projeto do primeiro livro.  Um apanhado das crônicas que os leitores mais gostavam, veio o convite da editora Penalux em 2014. Dali levei o livro para algumas escolas de Porto Alegre, ganhei fãs adolescentes que se identificavam com os sentimentos que transbordavam ali naquelas páginas. Saí dos bastidores, fui para as luzes, driblei a solidão para poder tocar o universo daqueles adolescentes. O lançamento, as divulgações nas redes foi o motor que me impulsionou a acreditar que o Carpinteiros do Universo tinha capacidade de expandir novos universos e quem sabe mudar de fato o mundo sem ser uma utopia.

E os anos passaram e o Carpinteiros continuou, ganhando novos leitor, legados e histórias. Em 2016 veio um segundo convite, a Editora Kazuá, um novo projeto, o segundo livro surgiu. Da mesma receita do primeiro, nasceu das crônicas dos Carpinteiros do Universo, dos comentários e do carinho dos leitores. Sem eles, ficaria complicado escolher quais textos seriam selecionados. Essa causa de ser militante poeta nunca foi uma causa egoísta, escrevo para que outras pessoas possam se sentir em casa. Que mesmo diante da insanidade lá fora, possa tecer lar nos meus versos. A minha escrita tem a pretensão de abraçar de conchinha o universo do outro sem censura, medo ou julgamento. Abraçar a singularidade de cada universo, afinal cada leitor se torna Carpinteiro do Universo, do meu Universo. Assim a Editora Kazuá em 2016, abraçou o Drops de Menta.

O livro Drops de Menta é também um apanhado de crônicas que agora ganham menos contornos de cartas de amor, imprimem às questões sociais que sempre desacomodaram a minha alma. Continuo falando de amor, mas ganho voz falando do que deixa minha alma nublada e turva. A realidade me afeta e atinge como punhal, é dela meu destino de mudança e revolução.

Neste meio tempo houveram outras publicações em revistas eletrônicas, coletâneas, projetos literários que ajudaram a criar mais intimidade e voz ao Carpinteiros do Universo.