Os Rejeitados
O filme os Rejeitados é uma doce surpresa que vem embalada em uma comédia dramática repleta de boas atuações e diaólogos inteligentes. O novo flme de Payne e Paula Giamatti repete a dose de sucesso de Sideways, filme de 2005. Este fala de temas presentes na nossa jornada, as nossas escolhas, o medo de envelhecer a algumas crises. Agora o novo filme repete o sucesso de atuação e de alguns elementos, mas trazendo o cenário da relação entre pais, professores e filhos.

O filme é ambientado nos 70, aonde irá se desenrolar uma inusitada relação entre um professor e um aluno. O clima natalino e o feriado faz que um grupo de jovens que ficavam em uma escola que é uma espécie de internato sejam deixados nas festividades aos cuidados de um professor que deve zelar a proporcionar uma boa experiência de festas para aqueles que não puderam celebrar com as suas famílias. Giamatti dá a vida a Paul Humman, um professor ranzinza que tem uma obsessão pela matéria que leciona. Sua paixão por civilizações antigas rende as melhores piadas do filme já que tudo ele associa com o seu tema de interesse. Ele vive dentro do campus, sem amigos e odiado pelos professores e alunos. A conexão com o seu aluno que ficaria sob seus cuidados Angus Tully interpretado por Dominic Sessa cria uma aversão quase imediata entre eles. Um adolescente que sofre problemas familiares o que o leva ter um comportamento agressivo e provocador. O seu humor irônico acabe combinando com o do professor. Para completar o time dos esquecidos na escola Da’ Vine Joy Rondolph dá vida a chefe da cantina Mary Lamb. Uma mãe enlutada pela recente perda do seu único filho que morreu em combate na guerra do Vietnã.
O vínculo entre os três se forma daquilo que todos somos permeados essas humanidades que nos tornam vulneráveis. O lado que muitas vezes a gente esconde, tenta maquiar com materialidades ou criando uma realidade que não existe. O professor esconde seus sonhos engavetados, se contenta com uma vida mediana e esconde quem realmente é. Angus é jovem e permemado por medos e traumas que crescem e se projetam em uma postura desafiante. Mary está vivendo um luto implacável que acaba gerando empatia e comoção. Deste trio a gente se pega pensado em tudo que aquilo que vivemos e tentamos esconder. Os esconderijos mais confortávei para não mostrar quem realmente somos. Talvez medrosos, um pouco covardes, brigões para não demonstrar cicatrizes, arrasados por perdas e quem sabe isso nos torna humanos. Ao longo do filme a humanidade e a fragilidade de cada personagem vai sendo decortinada e com isso os vínculos mais improvavéis vão surgindo. O professor e o aluno vão formando uma relação de um emaranhado permado por cenas cômicas, momentos dramáticos, brigas de ego e um afeto abarrotado de semelhanças vai surgindo entre eles.

O que mais tocou no filme na minha percepção é a delicadeza como a saúde mental é abordada. Muitas vezes quando se fala em adoecimento psíquico se torna exagarado ou esteriotipado. Complicado retratar os temas que permeiam o nosos mundo interno, mas nesta projeção isso ganha a medida certa. O professor e o aluno descobrem que lutam contra o mesmo demônio chamado depressão. A surpresa em saber que o pai de Angus está de fato vivo, mas morto pela sua mãe através do preconceito e da falta de entendimento é a virada de chave para que o relacionamento entre professor e aluno se consolide. Internando em um sanatório com uma possível esquizôfrenia. A mãe decidiu seguir adiante, ter uma vida nova e deixar o filho de fora. Daí vem um dos diálogos bonitos que já tive o prazer de desfrutar. O medo do jovem de enloquecer. Ele se vê no pai e sente que o culpam e projetam nele os problemas do pai. Como se o futuro dele estivesse marcado, mais cedo ou mais tarde ele iria se tornar o seu progenitor. O professor foi implacável em seu discurso falando que nós não somos os nossos pais. Não há como sermos exatamente iguais as pessoas porque podemos mudar, fazer diferente. Nesta hora ele enxerga o aluno e todo o seu potencial. Talvez quando a gente mostre os nossos medos sem medo do julgamento, o outro que nos enxerga e nos escuta tem a possibilidade de nos compreender de forma integral. Talvez os traumas e as cicatrizes do professor também foram expostos ao ponto dessa relação ser a virada de chave. Não o levando para esperava, mas para o que era necessário para mudar o curso da sua história.
Os Rejeitados é um filme que me comoveu e me trouxe boas e necessárias reflexões. Atuações impecavéis, personagens bem constrúidos e dialógos que te ganham pela inteligência. Traz uma aura que cativa e ao mesmo tempo reflexiva. Um filme que me remeteu a esperança nos seres humanos. Em um mundo permeado por violências em todos nivéis, parece que os holofotes sempre ganham atenção desturuiindo as pessoas e expondo os seus piores lados. Bom estar acompanhado de um fime que nos ensina a enxergar o potencial e o futuro nas pessoas mesmo diante de suas vulnerabilidades.
