Você não tem cara de Autista

Você não tem cara de Autista

Você se formou. Você trabalha. Você casou. Você sabe se comportar em público. Você cuida da casa. Você lê e escreve. Você trabalha. Você tem animais de estimação Você parece uma boa menina. Você não tem crises. Você não tem esteriotipias. Você sabe falar bem. Você mantém uma certa estabilidade. Você parece normal.

Todas essas falas são as que mais escuto diante do meu diagnóstico. Depois que eu recebi o meu laudo e me tornei oficialmente uma mulher dentro do Espectro Autista este tipo de discurso tem sido recorrente. As pessoas tem uma enrome dificuldade de compreender o que não conseguem ver. Já que a saúde mental não pode ser impressa em raio x. Quem dera poder scanear um mapa fiél do meu cérebro, do que se passa no meu mundo interno. De repente houvesse algum tipo de empatia pela quantidade infinuta de pensamentos intrusivos que passeiam pela miha mente.

Ao receber o meu diagnóstico para o Espectro Autista aos 33, fez automáticamente que o mundo não compreendesse o porque depois de percorrer uma jornada inteira, decidi segundo a sociedade encontrar mais um problelma. Já que Autismo está na moda, todo mundo é um pouco Autista, na realidade tudo deve ser culpa desta geração “mimi”. Frescura, falta do que fazer, falta de laço, limites ou culpa da criação. Você não pode estar dentro do Espectro Autista, você conseue socializar, seguir regras, acatar ordens, interpretar informações, tudo não deve passar de um equívoco. O que mais escuto é não tenho cara de Auista, quando escuto isso tenho uma vontade enorme de deixar os impulsos escaparem e responder o que me vem na minha mente sem fltros.

O que as pessoas do lado de fora não percebem, é o esforçopara chegar aos 30 e poucos minimamente inteira. Me sentia destroçada, fragmentada e o peso de interpretar papéis e personagens para conseguir dar conta de comrpomissos se tornou inviavél. Cada situação exige uma antecipação de quase tudo. Elaboro roteiros impecáveis do que devo falar, do que devo calar, estudo os assuntos que estão em voga, ensaio poses em frente ao espelho, escolho looks que possam se destacar, aprendo piadas e tento esconder qualquer deslize. Cada evento fora de casa, fora do meu mundo interno deve ser analisado, estudado e previvamente elaborado. Por isso qualquer visita inesperada, quebra de rotina, parte algo dentro de mim e me sinto esfaçalar em mil pedaços. Décadas sobrevivendo na escola, sendo colocada de lado, aprendi desde muito cedo que as pessoas são perversas e carregam egos grandes demais que impedem de ver o outro lado. Assim enceno diferentes personalidades para poder caber em grupos sociais e poder coneguir o que quero.

Na maior parte do tempo finjo estar interessada no que se pasa em grupos sociais, acho muito papo furado futilidades e hipocrisias, Me incomoda muito a forma como as pessoas insisitem em expor suas vidas como se estivéssemos em uma competição para ver quem tem uma vida mais perfeita do quea outra. Isso se agravou com o crscimento das redes sociais do qual acompanho com afinco, estudando os detalhes de uma sociedade que tem a necessidade de usar filtros para maquiar as humanidades. Já que no escuro todos nós somos vulneráveis e imperfeitos. Mas e complicado lidar com isso, precisamos disfarçar e a tecnologia ajuda um bocado. Fui uma criança isolada , demorei para perceber que isso não me afetava gostava da minha soldão e das minhas próprias brincadeiras. O que deixou ser interessante foram os rúidos constantes da violência. Tudo que eu era, incomodava, gerava revolta e descobri que mesmo em silêcio profundo me tornava um alvo.

O adolescer despertou as estrenhezas, esquisitices que levaram a esconderijos. Um deles foi a camuflagem perfeiita, escrever para poder driblar o caos lá fora e organizar um pouco o de dentro. O segundo sempre foram os livros, sessenta deles devorados em todos os lugares, escudos poderosos para se esquisar de conviver. Uma grande depressão tomou conta de todos os espaços do meu crescimento, isolada,, constrúi um mundo a parte. Depois de muito tempo, quase entrando numa fase adulta descorbi um grupo seleto tão estranho como eu. O rock melódido de letras pesadas nos unia como uma forma de redenção e talvez uma espécie de exorcizar todos os nossos demônios. Pessoas ao redor continuavam sendo perversas com seus comentários intrusivos e conclusões equivocadas. Ela não se mistura, ela prefere faxer trabalho em grupo sozinha, ela conversa com seus amigos imaginários, ela não se interessa por ninguém. Os massacres diários na escola poderiam ter florescido numa violência externa, mas o destino eram apenas o meu próprio corpo e o os versos.

Talvez a escrita, a arte sempre tenha sido a minha tábua de salvação. Aos onze comecei a escrever poemas, com o tempo tudo virou inspiração. Dali nasceu o que me tornei hoje, aspirante a escritora. Os livros sempre foram refúgios silenciosos, mas onde podia me desconectar da realidade perversa, embarcar em histórias fantásticas. Queria mesmo era viver em alguma era vitoriana longe dos barulhos da escola que faziam a minha mente sempre desligar. Ainda bem que hoje eu entendo que o Espectro Autista me traz este recurso de poder desconectar a minha mente. Tirar o foco mesmo estando presente, eu estou literalemnte “viajando”em algo mais evoutivo e interessante dentro dos meus pensamentos. Afinal aos dez li todos os livros do Paulo Coelho, enquanto as crianças queriam ir para Disney, almejava realizar o Caminho de Santiago. Renato Russo foi o meu guia espiritual para aguentar a escola, tendo como mentores não menos importantes Cazuza, Raul Sexias, Cássia Eller e Kurt Cobain. Me sentia bem mais próxima dos meus ídolos, por mais que soubesse que eles já haviam partid, eram mauis próximos do que as pessoas ao meu redor.

Foi no final da escola que encontrei pessoas que me apresentaram ao metal, estilo de música que abraça o meu caos de uma forma honesta. Ozzy se tornou protagonista da minha existência, nos seus versos me sentia compreendida e até amada. Acho que foi mais ou menos nesta época pelos 16 que encontrei a Pitty, pude enfim respirar a minha liberdade em uma garota que parecia não ter medo de ser ela mesma. Eu segui inventando persoangens, camuflando minha personalidade para poder continuar trilhando a minha jornada. A faculdade de pscologia foi um dos lugares mais cruéis e perversos que ja habitei. Isso que já deveria estar acostumada por todo histórico escolar, mas lá era um tipo de perversidade diferente. Você é rotulado de uma forma irônica como se todos os seus defeitos fossem disparados como metralhadoras automáticas durante todo o tempo. Lá era chamada de Autista de forma pejorativa, talvez os meus colegas tivesem acertado o meu diagnóstico, pena que eu só tive ele de fato dez anos depois.

Permaneci sendo esquisita durante todo o meu desvolvimento. Mas algo se quebrou de vez aos trinta, uma vontade de saber o porquê das minhas engrenagens parecerem sempre enferrujadas. Só que neste meio tempo tive o azar de ser diagnósticada de forma errada, isso me levou cada mais longe de mim mesma. Quanto mais substâncias entravam, mais eu me despersonalzava. Viver no automático era o que eu conseguia fazer. Há quem diga que de fato nunca parei, continuei resistindo e até quem sabe tentando existir. Só que pouco escrevi, atendia com muito esforço. Afinal consegui sobrevier a escola e a faculade de psicologa. Segui como psicoterapeuta, tive a sorte de escutar pessoas como eu. Talvez por elas, nunca perdi esperança de encontrar o meu destino. Fica complicado quando os médicos que parecem saber tanto, insistem em apenas amenizar sintomas e não escutar demandas.

Sentia ao longo dos anos que me humor afetava parte do que vivia. Ao mesmo tempo seria insano pensar que poderia ser diferente. Afinal a vida sempre veio com pancadas, reviravoltas, hematomas e perdas Só que era muito mais do que altos e baixos, ia muito além de períodos de depressão e euforia. Tinha algo a mais do que simplesmente compreender o que parecia ser um transtorno de humor. A raiz de tudo era a mesma. A problemática continuava estampada diante do espelho. Conviver sempre foi um tormento, Manter amigos, identificar pessoas tóxicas, ler emoções, saber se comportar em público, demontrar interese e afeto. Aprendi a me relacionar por imitação,, expressar efeto por educação e demonstrar interesse por obrigação.. Em poucos lugares me sentia eu mesma, isso causou uma enorme crise de identidade.

Chegar aos trinta e pocos fingindo ser alguém é pesado demais. Estar dentro do Espectro Autista principalemnte sendo uma menina me causou diversas crises de não saber o que de fato eu sou, o que quero e não quero. Achava que tinha que caber, ser popular, me encaixar mesmo a força, me perdi. Entendi a importância do diagnóstico quando a minha linha do tempo foi tecida na minha frente. A minha cronologia mostrava de forma clara e quase viceral que eu tenho dificiuldade na socialização. Este foi o norte que me levou a compreender que o Espectro Autista sempre esteve aqui. Mas aí voltamos ao começo do texto. Os outros acham que por eu conseguir suportar tudo, aifnal eles nãos sabem a minha relação bizarra com a dor e desconhecem os meus mecanismos de autodestruição. Sim eu consegui chegar em muitos lugares perante ao que a sociedade determina como correto. Entrrei nos ditos padrões, agora esta na hora de quebar estes grilhões.

Sou uma menina dentro do Espextro Autista que não tem cara de Autista, afinal a saúde mental não é algo visível diante da maioria das pessoas. Afinal a empatia, a escuta atenta e sem julgamentos estão em extinção. Misturado com os mecanismos de sobrevivência vigentes em mim, camuflar e imitar aos olhos estrangeiros parece cria uma certa percpctiva de esrar tudo bem. Mas eu sou uma menina Autista que finge ser normal. Só eu sei em quantos banheiros chorei antes de enfrentar qualquer evento social. As marcas pelo corpo de exaustão. As lutar internas por pensamentos que inisistem em ruminar. As palavras duras direicionadas que nunca pararam de rodar na minha cabeça. Os olhares que me intimidam. Sair de casa sempre é um preparo e um mergulho no desconhecido. Hoje me sinto mais forte por saber quem eu sou, mas não alivia o peso do preconceito.

A sociedade vai julgar sempre, então ser eu mesma é o meu desafio constante. Hoje não quero mais camuflar, imitar e fngir que me importo. Quero ser fiél aos meus instintos, estabelcer limites e seguir as minhas próprias diretrizes. Tenho tentando ser a minha real versão, mas velhos hábitos voltam mediante a ambientes que asustam. Pessoas me assustam e isso é um fato, não os meus pacientes e poucos que tenho afinidaee, mas as pessoas em geral. Ainda bem que tenho esbarrado em outras almas esquisitas como a minha, quem sabe possa formar uma legião de pessoas estranhas que cansaram da padronização.

Tudo que eu mais queria era oferecer abrigo e dizer, vamos encontrar juntos o caminho para de volta para casa.

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